quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"De cómo evolucionan los oficios del hombre", Antonio Di Benedetto

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Mais uma tradução de Antonio Di Benedetto, pra fecharmos a série. Mais um conto do Cuentos del exilio (1983).
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DE COMO EVOLUEM OS OFÍCIOS DO HOMEM
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          A filha do carrasco era bela e gentil. Não ignorava a atividade do pai, sem discutí-la ou horrorizar-se com ela, pois, como todos na comarca, considerava-a uma profissão necessária.
No entanto, nunca presenciava uma execução, nem em família se falava das alternativas do trabalho do pai.
O pai preparava seus instrumentos na oficina da parte subterrânea da casa, e a filha observou que a corda era muito tosca. Deduziu que suas ásperas fibras, além de cumprir sua missão de quebrar o pescoço ou suspender a respiração dos condenados, seguramente com seu roçar inclemente os lastimava mais que o necessário.
Também suportou com naturalidade e resignação esse descobrimento.
Até que soube que o carrasco teria que enforcar a filha do marquês, que havia pecado contra a honra da família e do rei. Não quis admitir a idéia de mil pequenos arranhões na branca pele da dama que, em segredo, era seu modelo e seu ídolo.
Então, como um tributo, forjou uma corda de seda, suavíssima, e pediu a seu pai que a aceitasse como presente, para celebrar a distinção que o rei lhe concedera encarregando-lhe da execução da filha do marquês, com preferência sobre todos os outros carrascos oficiais.
O pai sorriu-se discretamente ante a ingenuidade da jovem, que lhe dava uma corda de seda para usar no lugar de seu forte cordel de cânhamo, mas esticou-a em seus potentes braços e comprovou que resistia.
Usou-a para o pescoço da filha do marquês e satisfeito com o resultado decidiu incorporar o laço de seda aos instrumentos de seu ofício, seguro de ganhar outra vantagem sobre todos os demais colegas de seu país e outros países.
Por isso, ao voltar ao lar, declarou à filha:
– Obrigado por sua ajuda.
Mas em lugar de sorrir com aprovação pelo gesto, a jovem soluçou.
O pai percebeu que essas lágrimas obedeciam a uma confusa causa, que não era a de uma emoção filial.

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