quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Apuntes

m
m
Estou há quase quinze dias em São Paulo, e essa cidade tem coisas surpreendentes. Hoje pela manhã, no ônibus, uma senhora nisei fazia tricô tranquilamente sentada em seu assento baixo. Eu e muitas outras pessoas estávamos em pé, pois o ônibus estava lotado. Era pouco mais de oito horas e provavelmente a maioria daquelas pessoas estava indo trabalhar, preocupadas com o horário e o trânsito lento. E o tricô daquela senhora me fez lembrar os cachecóis que eu e Rodrigo ganhamos de uns amigos paulistas que nos receberam e se preocuparam com a nossa recepção ao frio. Esses cachecóis, presentes tão inesperados e bem-vindos, foram confeccionados pela mãe de um desses nossos amigos, provavelmente em um tear manual, embora primeiramente eu tivesse pensado que eles eram de tricô. O que é curioso, porque eu tinha pensado em retribuí-los exatamente com alguma peça feita por minha mãe em seu tear manual (artefato que eu considerava até então totalmente peculiar a minha família), instalado em nossa casa, em Feira de Santana, Bahia. Apesar de meu desapontamento inicial, ao descobrir que aquilo que eu julgava uma novidade e tanto não seria mais do que o trivial para esses meus novos amigos, percebo agora o inusitado da coincidência. São Paulo não é o monstro que se pensa. Dentro de seus lares, e até mesmo no espaço público, como se vê, gente simpática está tecendo os fios que Penélope desfez.     

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

E por falar em Roberto Bolaño

 m
m
Ele ficou muito conhecido após sua morte, em 15 de julho de 2003, por seus contos de grande estranhamento, por suas novelas e por seus romances caudalosos. Mas o que pouca gente comenta é que Bolaño também foi um excelente poeta. Ele próprio se considerava muito mais poeta do que prosador, dizia que sua poesia lhe ruborizava menos que sua ficção. Tanto é assim que não existem no Brasil traduções oficiais de seus poemas. Enquanto isso, eu ando por aqui, ensaiando o espanhol e alguns ensinamentos de tradução. Me gusta bastante seu livro Los Perros románticos, de onde extraí "Lupe", traduzido abaixo, e "A Visita ao convalescente", tradução que publiquei na revista virtual Desenredos e que se encontra aqui