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Outra tradução minha para um conto de Antonio Di Benedetto. Desta vez, "Rincones", também reunido no livro Cuentos del exilio (1983).
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mCANTOS
Acho que era amor e, no entanto, não perseveramos.
Após dez anos desse encontro/desencontro, dei de cara com ela ao entrar em um escritório.
Conversamos. Eu havia me casado, ela não, mas não insinuou que me culpava por sua solteirice.
Quis defender-se do que já havia passado, e deixou cair uma acusação trivial:
– Não te entendia, Pedro. Seu caráter tão complexo...
Deixou no ar a repreensão caduca e se recompôs para confessar sua própria fraqueza:
– Bom, se eu também não entendo as coisas mais simples.
Opinei que ela insistia em se maltratar com sua excessiva modéstia. Aceitou, à sua maneira:
— Não sei... sou assim. Sempre vai me encontrar pelos cantos.
Em seguida, nessa manhã, nos deixamos ir.
Depois, ao descer de um ônibus, outro ônibus destroçou seu corpo.
Soube por um jornal vespertino. Acudi com o pequeno cortejo de surpreendidos e pesarosos que ela podia reunir.
Alguém havia exercido a piedade de recompor, ainda que toscamente, sua face muito machucada. Mas ninguém teve a compaixão de cobrir o círculo de vidro do caixão, para que não nos detivéssemos ante o rosto desfigurado.
Já não era ela.
Agora deslizo pelos cantos. Os cantos que possuem as casas que constroem os homens e os cantos que têm os espaços abertos: ruas, praças, alamedas. Procuro por ela.
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