sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Algo de Alejandra Pizarnik

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Disponho aqui traduções minhas para alguns dos poemas do livro Árbol de Diana (1962), da poeta argentina Alejandra Pizarnik. Essas traduções também se encontram publicadas na revista eletrônica Desenredos e podem ser lidas clicando-se aqui. Alejandra Pizarnik nasceu em 29 de abril de 1936 em Buenos Aires, Argentina. Aos 19 anos publicou seu primeiro livro de poemas, La tierra más ajena (1955), que seria depois renegado por ela e excluído de suas principais antologias. Cinco de seus poemários tem sido apontados como peças fundamentais de sua obra: Árbol de Diana (1962), Los trabajos y las noches (1965), Extracción de la piedra de la locura (1968), El infierno musical (1971) e Textos de la sombra y Últimos poemas (1982), este último publicado postumamente. Escreveu também prosa – principalmente ensaios e leituras críticas, nos quais muitas vezes é possível vislumbrar uma espécie de arte poética de sua própria produção – e traduziu autores de língua francesa como Antonin Artaud e Aimé Cesaire. Segundo Silvia Baron Supervielle e Claude Couffon, responsáveis pela edição de sua poesia completa na França, reina na obra de Alejandra um potente desejo de silêncio e em seus poemas tudo é, a um só tempo, real e irreal. Em 25 de setembro de 1972, aos 36 anos, morreu em Buenos Aires em decorrência de ingestão excessiva de barbitúricos.*
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Estas são as versões que nos propõe:
um buraco, uma parede que treme...
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por um minuto de vida breve
única de olhos abertos
por um minuto de ver
no cérebro flores pequenas
dançando como palavras na boca de um mudo
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ela se despe no paraíso
de sua memória
ela desconhece o feroz destino
de suas visões
ela tem medo de não saber nomear
o que não existe
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um vento fraco
cheio de rostos dobrados
que recorto em forma de objetos para amar
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agora
mmmnesta hora inocente
eu e a que fui nos sentamos
no umbral de meu olhar
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explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me
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te afastas dos nomes
que fiam o silêncio das coisas
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Aqui vivemos com uma mão na garganta. Que nada é possível já sabiam os que inventavam chuvas e teciam palavras com o tormento da ausência. Por isso em suas preces havia um som de mãos apaixonadas pela névoa.
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no inverno fabuloso
a endecha das asas na chuva
na memória da água dedos de névoa
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É um fechar de olhos e jurar não abri-los. Enquanto do lado de fora se alimentem de relógios e de flores nascidas da astúcia. Mas com os olhos fechados e um sofrimento na verdade demasiado grande pressionamos os espelhos até que as palavras esquecidas soam magicamente.
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Para além de qualquer zona proibida
há um espelho para nossa triste transparência
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* Pequena biografia incluída por sugestão muito bem-vinda de Juliana Bratfisch.

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