sábado, 26 de novembro de 2011

"Martina espera", Antonio Di Benedetto

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Traduzi este conto há uns quatro anos. Até já tive um blog que se chamava assim, Martina espera, e que durou apenas umas semanas. Redescobri a tradução entre meus arquivos nestes últimos dias, quando buscava uma outra coisa. E acho que não cairia mal colocá-la aqui. O conto faz parte do livro Cuentos del exilio (1983), do argentino Antonio Di Benedetto (1922 - 1986). Sua obra contística é toda muito boa, por sinal. Li seus contos completos lá pelo lejano ano de 2007 e me lembro de ter gostado de todos os livros. De seus romances, só conheço um: El silenciero, que também me agradou bastante.
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MARTINA ESPERA
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         Martina espera o marido.
         Quer agradá-lo. O marido amava gatos. Ela cria um gato de luxo, de suave e copioso pelo.
         Martina quase não precisa do mundo exterior. Só aparece para receber ou gastar com o imprescindível suas discretas rendas.
         Após doze anos regressa o marido. Vem grisalho, mas fortalecido pela luta com os bosques e as montanhas, os pântanos e os rios. Não traz os dólares que sua esperança lhe tinha prometido ao partir.
         Martina o vê afundar os dedos na pelagem já opaca e algo encrespada do gato. Como se o saudasse com mais ternura que a ela. Depois não o toca mais.
         Um dia Martina observa que abre uma janela e permanece muito tempo olhando para fora, para o céu.
         Deixa a janela aberta e ela diz “Está ventando” e ele responde “Muda o cheiro das coisas”.
         Pouco depois desaparece, ele com a maleta.
         Martina compreende que se foi, sem um adeus. Sem explicações. Nada mais compreende.
         Contempla, examina a sala e diz a si mesma que está como era doze anos atrás.
        Registra o rosto diante do espelho; fita os cabelos e se concede indulgência: “Como me penteava então, como ele gostava”.
         Senta-se absorta. Trata de entender.
         O gato se desloca, de um sofá a outro, para cochilar mais perto do canto preferido.
         Martina o observa. Repreende-o, com uma voz tênue, como sem dor:
         – Não gostou de você, por isso se foi. Que ia fazer aqui, sem um gato que lhe agradasse? 
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