domingo, 1 de abril de 2012

Lições de escritura

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Antonin Artaud em tradução de Alejandra Pizarnik
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Talvez seja necessário dizer que ando ultimamente pensando bastante nas seguintes palavras de Julio Cortázar:
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"Se eu fosse uma pessoa de dar conselhos, diria a um jovem escritor que tenha dificuldades de escrever para deixar de escrever por um tempo por conta própria e passar a traduzir boa literatura; um dia ele se dará conta de que está escrevendo com uma fluidez que não tinha antes".
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E nessas outras de Roberto Bolaño:
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"Muitas podem ser as pátrias [do escritor], me ocorre agora, mas apenas um o passaporte, e esse passaporte evidentemente é o da qualidade da escrita. Que não significa escrever bem, porque isso qualquer um pode fazer, mas escrever maravilhosamente bem, e nem sequer isso, pois escrever maravilhosamente bem também pode qualquer um fazer. Então o que é uma escrita de qualidade? Pois o que sempre foi: saber meter a cabeça no escuro, saber pular no vazio, saber que a literatura basicamente é um ofício perigoso. Correr pela borda do precipício: de um lado o abismo sem fundo e do outro lado os rostos de quem se gosta, os sorridentes rostos de quem se gosta, e os livros, e os amigos, e a comida. E aceitar essa evidência ainda que às vezes nos pese mais do que a lápide que cobre os restos de todos os escritores mortos. A literatura, como diria uma folclórica andaluza, é um perigo".
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E com isso volto outra vez sobre Cortázar, quando este diz:
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"Se fizéssemos uma escala de valores de jogos que fosse dos mais inocentes aos mais refinadamente intencionais, acredito que teríamos de colocar a literatura (e a música, a arte, em geral) entre os de expressão mais alta, mais desesperada (sem o valor negativo desta palavra)".
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E então penso em Artaud, e neste trechinho do prólogo que Alejandra Pizarnik escreveu para algumas de suas traduções do poeta francês:
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"Aquela afirmação de Hölderlin, de que 'a poesia é um jogo perigoso', tem seu equivalente real em alguns sacrifícios célebres: o sofrimento de Baudelaire, o suicídio de Nerval, a misteriosa e fugaz presença de Lautréamont, a vida e a obra de Artaud... Estes poetas, e uns poucos mais, tem em comum o haver anulado - ou querido anular - a distância que a sociedade obriga a estabelecer entre a poesia e a vida".   
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E então eu fico pensando... e não posso fazer muito mais do que isso.

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