sábado, 31 de março de 2012

"Escritores que se alejan", Roberto Bolaño

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O poeta francês Antonin Artaud e seu hyper-expressif olhar
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Escritores que se afastam
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Roberto Bolaño
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    Faz uns dias, com Juan Villoro, nos pusemos a relembrar aqueles autores que haviam sido importantes em nossa juventude e que hoje caíram em uma espécie de esquecimento, aqueles autores que gozaram em seu momento de muitos leitores e que hoje sofrem a ingratidão desses mesmos leitores e que, para completar, não conseguiram interessar aos leitores de uma nova geração.
   Pensamos, claro, em Henry Miller, que em seu dia teve uma grande difusão na Espanha, e cujo nome estava na boca de todos, mas cuja fama talvez obedecia a um equívoco: é provável que mais da metade dos que compraram seus livros o tenham feito esperando encontrar um pornográfico, algo que de certa maneira se justificava e era uma necessidade na Espanha que emergia depois de quarenta anos de censura fradista e franquista.
   No outro extremo nos lembramos de Artaud, puro nervo ascético, que em seu dia também teve boas vendas, e não poucos admiradores espanhóis e mexicanos, e que se alguém comete hoje o erro de perguntar a uma pessoa de menos de trinta anos por seu nome seguramente receberá uma resposta desoladora. Já nem mesmo aqueles que se interessam por cinema sabem quem foi Antonin Artaud, o que é bastante grave.
    O mesmo ocorre com Macedonio Fernández: seus livros, salvo na Argentina, suponho, não se encontram nas livrarias. E com Felisberto Hernández, que nos anos setenta teve um pequeno boom, mas cujos relatos, hoje, só se podem encontrar depois de procurar muito em sebos. Presumo que a sina de Felisberto no Uruguai e na Argentina deve ser diferente, o que nos leva a um problema ainda pior do que o esquecimento: o provincianismo com que o mercado do livro concentra e aprisiona a literatura de nossa língua, e que explicado de forma simples quer dizer que os autores chilenos só interessam no Chile, os mexicanos no México e os colombianos na Colômbia, como se cada país hispano-americano falasse uma língua diferente ou como se o prazer estético de cada leitor hispano-americano obedecesse, antes de tudo, a uns referentes nacionais, quer dizer, provincianos, algo que não acontecia na década de setenta, por exemplo, quando surgiu o boom, nem, apesar da má distribuição, na década de cinquenta ou quarenta.
   Mas, enfim, não era disso que falávamos com Villoro, mas de outros escritores, escritores como Henry Miller ou Artaud ou B. Traven ou Tristan Tzara, escritores que contribuíram para nossa educação sentimental e que agora já não se podem encontrar nos catálogos das livrarias pela simples razão de que quase não tem novos leitores. E também daqueles mais jovens, escritores da nossa geração, como Sophie Podolski ou como Mathieu Messagier, que foram jovens absolutamente maravilhosos e de grande talento e aos quais já não só não é possível encontrar nas livrarias como tampouco nos sites de busca da internet, o que quer dizer muito, como se nunca tivessem existido ou como se nós os tivéssemos imaginado. A resposta a esse refluxo de escritores, no entanto, é muito simples. Assim como o amor se move com uma mecânica similar a do mar, como dizia o poeta nicaraguense Martínez Rivas, assim também se movem os escritores, e um dia aparecem e logo desaparecem e logo, quem sabe, voltam a aparecer. E se não voltam a aparecer também não importa tanto porque eles, de alguma maneira secreta, já são nós.   
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(Texto de Roberto Bolaño publicado originalmente em um jornal espanhol e reunido posteriormente, junto com o conjunto de seus artigos jornalísticos, no volume Entre paréntesis, editado pela Anagrama. Tradução minha).

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