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m Não deixe esse cavalo
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Não deixe esse cavalo
mmmcomer esse violino
gritou a mãe de Chagall
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mmmmMas ele
mmmmcontinou
mmmmpintando
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E ficou famoso
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E continuou pintando
mmmmmmmO Cavalo com Violino na Boca
E quando finalmente o acabou
ele pulou sobre o cavalo
mmmmme se mandou
mmmacenando com o violino
m
E então com uma mesura discreta ele o deu
ao primeiro nu pelado com quem cruzou
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E não havia cordas
mmmatadas
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***
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Sou fissurada em poema-imagem. E adoro poesia narrativa. Reparem nesse poema de Lawrence Ferlinghetti que traduzi. Ele é o que se pode chamar de "poemaimagemquecontaumahistória". E ele é assim porque, efetivamente, ele é um quadro de Marc Chagall. Ele não traduz ou representa um quadro de Chagall; "Don't let that horse" é o próprio óleo em tela. E os quadros de Chagall são assim. Eles não tem a calma contemplativa das naturezas-mortas de Matisse. Acontecem coisas neles. E acontece exatamente o tipo de coisa que Ferlinghetti narra no poema: coisas absurdas, surreais, irresistíveis de se apurar os detalhes. O que poderia ser natureza-morta em Chagall é frequentemente perturbado por um nu feminino flutuante, por um casal de noivos sem contexto ou mesmo por um cavalo tocando violino. "Don't let that horse" harmoniza-se completamente com o universo de Chagall: o cavalo, o violino, o salto, o "naked nude" e o absurdo da falta de cordas no violino são elementos importantes e constantes na poética do pintor. De fato, "Don't let that horse" é um quadro com todas as emoções e movimentos de Chagall. Mas pintado com a ironia de Ferlinghetti.
Também adoro esse tipo de trabalho artístico, estou escrevendo uma tese sobre isso.
ResponderExcluirVi que vc é de Feira de Santana, morei em Feira mais de 20 anos :)
Muito bom seu blog, parabéns!